27 de outubro de 2010

Fórmula-2 1972 - Parte 1

O campeonato europeu de Fórmula-2 trouxe uma inovação interessante na temporada de 1972: pela primeira vez, os carros poderiam utilizar motores com até 2000 cc (até o ano anterior, podiam contar com apenas 1600 cc).

A primeira prova da temporada ocorreu em Mallory Prak e foi vencida pelo galês David Morgan, com um Brabham BT35.

Morgan terminou a 1ª bateria com 4,2s de vantagem sobre Niki Lauda e 11s sobre Carlos Reutemann.


Reutemann e o Brabham BT38


Scheckter e o McLaren M21

A 2ª bateria foi vencida por Reutemann, que largou na frente. Lauda ultrapassou Morgan logo no começo e atacou o líder durante boa parte da corrida. Mas não adiantou e os 3 primeiros acabaram a prova exatamante nessa ordem.

Mesmo acelerando bastante, Reutemann não conseguiu descontar a diferença que Morgan estabeleceu. Com a soma dos tempos, a classificação final acabou com Morgan, Lauda e Reutemann. Foi a primeira vitória do Galês na Fórmula-2.

A segunda etapa, em Thruxton, apresentou um pequeno problema: mais de 60 (!) pilotos se inscreveram. A solução foi realizar duas baterias eliminatórias e uma final.

Muitos abandonos aconteceram e apenas 5 pilotos receberam a bandeirada ao final das 3 baterias: Ronnie Peterson, François Cevert, Niki Lauda, Patrick Dal Bo e Claudio Francisci. Porém, Peterson e Cevert já eram pilotos da Fórmula-1 e não marcavam pontos. Assim, quem se deu bem e herdou os pontos do vencedor foi Lauda.

Carlos Reutemann sofreu um acidente quando o rolamento da roda traseira esquerda de seu Brabham quebrou e a roda escapou. O argentino bateu em um barranco, voltou desgovernado e bateu novamente. Resultado: tornozelo direito quebrado e 45 dias de molho.

A terceira etapa foi disputada em Hockenheim. Jean Pierre Jaussad venceu as 2 baterias.

José Carlos Pace fez jus a fama de azarado: largou entre os últimos e foi ganhando posições até alcançar o segundo posto. Quando estava atacando o líder, Patrick Depallier, viu seu motor quebrar.

Um fim-de-semana muito pior teve Bert Hawthorne. Na qualificação, o motor de seu carro falhou e ele teve que desacelerar. Darn Derdech, que vinha atrás, não consegiu frear a tempo e jogou Hawthorne para fora da pista, fazendo-o passar por baixo do guard-rail. O carro se incendiou e a equipe de resgate não consegiu retirá-lo. Hawthorne acabou morrendo mas, segundo o laudo médico, a causa foi a batida, e não o fogo.

A corrida seguinte seria no circuito de rua de Pau, na França. Na época, o circuito possuia árvores, postes e até um riacho, mas não contava com guard-rails (a pista era "protegida" apenas por montes de feno).

Patrick Depallier (com um Pygmee) foi o vencedor da primeira bateria, seguido por Lauda e Gerry Birrell, ambos de March.

Logo na primeira volta Jochen Mass e Bob Wollek bateram. Para fugir do acidente, Emerson Fittipadi resolveu cortar caminho por uma calçada!

Algumas voltas depois, Graham Hill derramou óleo na pista, após o estouro de seu motor. Roger Williamson rodou e foi atingido por Emerson. O brasileiro foi empurrado pelos fiscais e conseguiu voltar a corrida. Algumas voltas depois, já era o 6º colocado. Porém, o motor da Lotus do Rato não aguentou e ele teve que abandonar.

Peter Gethin venceu a segunda bateria e terminou em primeiro na soma dos tempos.

Em Crystal Palace, seria utilizado o mesmo sistema de Thruxton: duas baterias eliminatórias e uma final. Reutemann venceu a primeira e Mike Hailwood a segunda. Ele era mais conhecido com Mike "The Bike" por causa de seus feitos no motociclismo, mas mostrou que também corria bem com 4 rodas.

Na corrida final, Hailwood liderava até próximo do final, quando a barra estabilizadora de seu Surtees teve problemas e ele acabou se tornando uma presa fácil para Jody Scheckter, que o ultrapassou e venceu.

A Fórmula-2 voltou a Hockenheim em um dia bastante chuvoso e viu a primeira vitória de Emerson Fittipaldi no ano. Um erro de cronometragem colocou Lauda na pole position da primeira bateria. O austríaco até reconheceu o engano, mas a direção da prova o manteve lá mesmo...

Emerson, que partia em segundo, arrancou com vontade e assumiu a liderança. Algumas voltas depois, Peter Gethin também ultrapassou Lauda e começou a pressionar o brasileiro. A diferença que era de 6 segundos caiu para apenas 1, mas o Rato acabou vencendo mesmo assim.


Emerson liderando na chuva

Na segunda bateria, Fittipaldi largou bem e deixou Gethin para trás (a ordem de largada de uma corrida obedecia a ordem de chegada da anterior). O brasileiro abriu uma boa vantagem no começo e, a partir daí, só administrou para ganhar mais uma.


Mike Beuttler em Hockenheim

Em Rouen, sétima etapa, também seria utilizado o sistema de três baterias: duas eliminatórias e uma final.

Na primeira bateria, o pole Emerson Fittipaldi perdeu a ponta para Reutemann e Jody Scheckter. Porém, ele acabou se beneficiando com um erro do argentino na troca de marchas e com o abandono de Scheckter, que sofreu com o superaquecimento de seu motor. Emmo terminou em primeiro, seguido por Reutemann e Beltoise.

Na segunda bateria, Hailwood foi o primeiro, com Cevert em segundo e Jaussaud em terceiro.

A bateria final tinha Fittipaldi na pole position. Na largada, o brasileiro foi ultrapassado por Hailwood. Porém, Emerson acabou devolvendo a ultrapassagem duas voltas depois. "The Bike" chegou a pressionar, mas rodou e acabou se distanciando do Rato, que cruzou a linha de chegada em primeiro.

Em Zeltweg, o único piloto de Fórmula-1 a participar da corrida foi Emerson Fittipaldi. O brasileiro dividia a primeira fila com Hailwood e ambos largaram bem, sem cometer erros. Na reta, Hailwood o ultrapassou, graças a melhor aerodinâmica de seu Surtees em comparação a Lotus (sim, naquela época os chassis dos F2 eram diferentes!).

Antes da corrida, Peter Gethin havia derramado óleo na pista e os organizadores cobriram com cimento. Na primeira volta, Hailwood passou justamente por ali e fez Emerson, literalmente, comer poeira, pois o brasileiro vinha praticamente colado a ele. Um pouco de cimento acabou entrando pela viseira do Rato e, como ele contou a revista "Quatro Rodas", teve que ficar piscando para se livrar do pó e seguir acompanhando o líder bem de perto.

Porém, uma volta inteira em Zeltweg andando no vácuo tem seu preço. Na Lotus, o mostrador da temperatura da água indicava 150º, quando o recomendável seriam apenas 80º! Emerson havia resolvido tirar o pé do acelerador, quando Hailwood errou uma marcha e foi ultrapassado pelo brasileiro.


Emerson liderando Hailwood na 2ª volta

Fittipaldi não conseguia se distanciar de Hailwood, até que chegaram nos retardatários. Enquanto o brasileiro passou por eles sem maiores problemas, seu adversário perdeu tempo, principalmente atrás de Jaussaud. Tendo saído do vácuo da Lotus, o britânico foi perdendo contato com o líder.

Emerson ainda teve uma série de problemas nas voltas finais: a temperatura do motor aumentava, a pressão do óleo caía e os freios estavam ruin. Mas o sempre cuidadoso Rato conseguiu chegar ao final e ganhar mais uma.

Em Ímola, ocorreu um fato curioso: John Surtees garantiu o primeiro lugar na classificação geral, mesmo não tendo terminado nenhuma das baterias entre os 2 primeiros colocados. O campeão mundial de 1964 terminou uma delas em 4º e a outra em 3º, mas a soma dos tempos lhe deu a vitória.

Classificação até o momento:
1 - Mike Hailwood - Reino Unido - Surtees-Ford - 29 pontos
2 - Jean-Pierre Jaussaud - França - Brabham-Ford - 25 pontos
3 - Carlos Reutemann - Argentina - Brabham-Ford - 23 pontos
4 - Niki Lauda - Áustria - March-Ford - 21 pontos
5 - Dave Morgan - Reino Unido - Brabham-Ford - 19 pontos
6 - Bob Wollek - França - Brabham-Ford - 18 pontos
7 - Jody Scheckter - África do Sul - McLaren-Ford - 16 pontos
8 - Patrick Depailler - França - March-Ford - 15 pontos
9 - Mike Beuttler - Reino Unido - March-Ford - 12 pontos
Obs: pilotos de Fórmula-1 que participassem das corridas não marcavam pontos para o campeonato

Ainda restam 5 etapas, mas eu deixo para falar sobre elas na 2ª parte.

Créditos das Fotos: Acervo Digital da revista "Quatro Rodas"

4 comentários:

  1. Legal

    Aguardando a parte 2

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  2. Anônimo4.9.24

    Não sei se estou enganado, mas pilotos de formula 1 poderiam concorrer ao título da F2 desde que não fossem "graduados" (para ser graduado tinha que chegar 2 vezes entre os 6 primeiros na f1).

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