1 de maio de 2013

F1 x NBA

Bernie Ecclestone declarou que assinou acordos com cada uma das 10 primeiras colocadas do Mundial de Construtores de 2012, negociando separadamente com cada uma delas. A Marussia, 11ª no ano passado, ficou de fora.

Acordos firmados dessa maneira são sempre ruins. Cada equipe busca o que é melhor para si própria. E por qual motivo não deveria ser assim? Simplesmente porque isso é prejudicial ao campeonato e, para ilustrar, gostaria de fazer uma comparação com a liga de basquetebol dos Estados Unidos.



Na NBA, a divisão de cotas de TV é igual para todas as franquias. O Boston Celtics, com seus 17 títulos,  recebe o mesmo que o Toronto Raptors, que jamais foi campeão. O Hornets, da pequena Nova Orleans, ganha tanto quanto o Knicks, da gigante Nova Iorque.

É claro que essa não é a única fonte de renda das franquias. Times com um maior apelo popular, evidentemente, acabam por lucrar mais. Por esse motivo, a liga estabeleceu um teto salarial. Uma equipe pode até superá-lo, mas paga por isso. Para cada dólar excedido, há uma multa, que aumenta proporcionalmente. Assim, quanto maior for o gasto do time, maior será a multa a ser paga por cada dólar excedente em relação ao limite.

Parte do dinheiro arrecadado com as tais multas é dividido entre os times que não ultrapassaram o teto, enquanto o restante é gasto em eventos da própria NBA, tal como o jogo das estrelas. Isso faz com que, por exemplo, a diferença entre a maior folha salarial da NBA na temporada 2009-10 (os US$ 91 milhões do Lakers) e a menor (os US$ 53 milhões do Grizziles) seja de "apenas" US$ 38 milhões. Agora, vamos comparar com a F1 e vocês entenderão o motivo pelo qual eu escrevi "apenas": segundo a revista alemã Auto Motor und Sport, em 2010, o orçamento da Red Bull foi de aproximadamente US$ 404 milhões, enquanto a nanica Hispania teve à sua disposição cerca de US$ 49 milhões!

Além disso, para equilibrar ainda mais as coisas, a NBA organiza o draft, um evento no qual os trinta times escolhem jogadores para ingressar na liga. Primeiramente, os times que ficaram de fora dos playoffs na temporada anterior participam de uma espécie de loteria para determinar a ordem da escolha. O vencedor ganha o direito de fazer a primeira seleção. O processo é organizado de modo que os times com  desempenhos inferiores na temporada anterior tenham maiores chances de obter escolhas melhores. Esse método determina as três primeiras escolhas e o restante é disposto em ordem contrária ao número de vitórias do  ano anterior.

E por que diabos a NBA faz tudo isso? Socialismo? Amizade? Premiação ao fracasso? Nada disso. O motivo é simples: quanto mais equipes com chances de levantar o caneco, mais emocionante fica o campeonato e, consequentemente, mais pessoas se interessarão por ele. E isso é bom para TODOS os times da liga.

O Cleveland Cavalliers, por exemplo, terminou a temporada de 2002-03 na última colocação. Por esse motivo, acabou sendo beneficiado na escolha do draft no ano seguinte e selecionou o astro LeBron James. Com ele, o time deu uma guinada: chegou às finais em 2007 e fez a melhor campanha da temporada regular em duas ocasiões (2008-09 e 2009-10). Isso significa que um time que outrora era o saco de pancadas, se transformou em um bicho-papão.

Sou contra a padronização de motores, chassis ou pneus. A F1 é, antes de tudo, uma competição entre carros. Eles é que são os verdadeiros astros. Porém, é preciso equilibrar as coisas. 

Na principal categoria do automobilismo, ocorre o inverso do que se vê na NBA: as equipes são premiadas de acordo com suas posições no mundial do ano anterior. O primeiro colocado fica com a maior parte e assim sucessivamente, até chegar ao último colocado que, coitado, vai receber uma merreca.

Não é preciso dizer que isso gera um problema: o campeão, que já era bom, tende a continuar assim, já que recebeu a maior parte da grana. É por isso que, quando a temporada começa, só uns 2 ou 3 times têm chances reais de serem campeões, e quase sempre são os mesmos que já foram protagonistas nos anos anteriores. Os coadjuvantes também tendem a ser os mesmos. Os figurantes, idem.

E isso é muito chato.

3 comentários:

Rodrigo Felix disse...

Parabéns! Excelente argumento e texto. Fiquemos na esperança do velho "Berne" bater as botas e mudar algo...Sou favorável até ao louco do Briatore comandar a categoria (que ninguém duvide que ele mexe uns pauzinhos por debaixo do pano).

Luiz Graton disse...

perfeito! O equilíbrio torna o esporte, que é competição muito mais emocionante!
E além disso, serve para melhorar a qualidade do campeonato!
Pena q não se pensa assim no futebol!

Discute-se espanhlização e o modelo da premier league de divisão de contas é apontado como o melhor, mas o melhor modelo é o da nba.
Lá a liga ainda faz um monte de ações de caridade.
No futebol os cartolas querem apenas encher os bolsos.

Luiz Graton disse...

Faltou ainda ressaltar q o resultado desse modelo de busca pelo equilíbrio, que passa pelo FairPlay financeiro na divisão de cotas de tv e na briga por revelações, faz com q os Estados Unidos sejam imbatíveis no basquete!
Eles as vezes conseguem ganhar os campeonatos levando os jogadores que são amadores das ligas universitárias.

Outra questão que deveria servir de lição para o futebol...

Fala-se q o futebol brasileiro não é mais o mesmo, apresentam justificativas em problemas de formação, em escolas táticas, e diversas outras variáveis, mas nunca ouvi a discussão de como o modelo de negócio na divisão do dinheiro afeta o desempenho e a qualidade do esporte.